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Precisamos falar sobre cotas – para homens
Em todos os países do mundo, a maneira mais eficiente de fazer pais aderirem à licença prolongada foi reservar uns meses exclusivos para eles. 
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Mudar hábitos é difícil. É difícil criar filhos de forma igualitária. É difícil fazer o chefe entender que um pai também falta no trabalho para levar o filho ao médico. É difícil explicar para a vizinha que, em alguns casos, é a mãe que sai para trabalhar e o pai que fica em casa. Muitas vezes, a mudança nas normas sociais pode acontecer até mesmo depois da mudança nas políticas públicas. 

 

É só pegar o exemplo da licença parental. Na maior parte dos países, antes de existir licença parental, não é que o povo estava marchando pelas ruas clamando por esse direito. 

 

A Alemanha, por exemplo, tem licença parental unissex desde 1986. Mas até 2006, só 3% dos pais usava o benefício: quase a totalidade do tempo era tirado pelas mães. Em 2007, esse número começou a mudar - até que, em 2017, 36% dos homens tiraram algum tempo de licença. O que aconteceu? Em 2007, a Alemanha criou a “cota do papai”, dois meses de licença extra que são perdidos caso apenas um dos pais se afaste do trabalho. Funciona assim: o tempo total da licença é de 12 meses - MAS, se ambos os pais ficarem um período em casa, a licença passa a ser de 14 meses. São 2 meses a mais de ausência remunerada. Rapidinho, os homens perceberam que seria burrice deixar de usar essa vantagem. “Hoje, depois da reforma de 2007, podemos dizer que as normais sociais realmente mudaram para os pais”, diz a economista Katharina Wrohlich, do Instituto Alemão de Pesquisas Econômicas (DIW, na sigla em alemão). 

 

Parece que, maior do que a vontade de participar da vida dos filhos é a vontade de não ser passado para trás. Economistas e psicólogos até têm um nome para isso: aversão à perda. O ser humano prefere ter certeza de que não se deu mal do que se dar bem de fato. Todo mundo conhece essa sensação. Sabe quando você vê uma promoção de roupa de cama numa loja e fica na dúvida se deve comprar ou não? E aí vem uma pessoa e compra a última peça do estoque? Você nem sabe se realmente precisava de mais um jogo de lençol, mas sabe que não queria ter perdido aquela oportunidade. Foi mais ou menos isso que aconteceu nos países que criaram as cotas de licença parental para os pais. E funcionou.

 

Não é à toa que países preocupados com igualdade de gênero têm aumentado suas cotas paternas gradualmente. A Suécia começou com 1 mês em 1995, hoje está nos 3 meses e a expectativa é que aumente para 5 meses nos próprios anos. Pode ser que o desejo de tirar licença paternidade não tenha partido genuinamente do coração de todos os homens suecos - mas é fato que 90% deles agora tira. E isso basta.

Texto publicado originalmente na Rede Maternativa.

Até 2006, só 3% dos pais entrava de licença. Em 2017, foram 36% dos homens. O que aconteceu? Em 2007, a Alemanha criou a “cota do papai”, um tempo de licença que é perdido caso os homens não a tirem.
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