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O que é penalidade materna?
Como a chegada de um bebê atrasa a carreira das mulheres - mas não a dos homens.
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Por algum motivo que me é desconhecido, parece que o mundo acha que um pedaço do meu cérebro saiu junto com a placenta quando meu filho nasceu. Só isso para explicar os comentários que comecei a ouvir em entrevistas de emprego ou em reuniões de trabalho logo depois que me tornei mãe. “Mas onde está seu filho agora?” ou “Você tem coragem de deixar ele tanto tempo na creche?”. Toda mãe que trabalha fora de casa sabe: basta botar um filho no mundo para começarem as dúvidas sobre a sua capacidade profissional. Isso, se você tiver sorte. Se tiver azar, já era: acaba eliminada do mercado do trabalho.

 

Há muitos estudos que mostram os efeitos da chegada de um bebê na carreira da mãe. É a famosa “penalidade materna”, uma queda na renda de mulheres depois que elas têm filhos - e que persiste até o fim da vida profissional. Todos os países do mundo registram o fenômeno, até aqueles que garantem longas licenças e estabilidade no emprego por anos. Para só ficar nas nações ricas, vale olhar um estudo feito pelo economista Henrik Kleven, da Universidade Princeton: o nascimento de um filho causa uma perda salarial de até 26% nos países escandinavos, de 44% no Reino Unido e nos EUA, e de até 61% aqui na Alemanha, onde estou morando e pesquisando sobre como os países europeus tentam lidar com a questão maternidade + trabalho. (Spoiler: não é aquela maravilha toda que se imagina.)

 

A penalidade materna funciona como uma estrada que se parte em duas: quando uma mulher tem um filho, envereda pelo caminho com buracos no asfalto, mal sinalizado e na beira do desfiladeiro. Os efeitos já foram comprovados em centenas de pesquisas e artigos científicos: mulheres com filhos são consideradas menos competentes e confiáveis do que homens e até mesmo do que suas colegas sem filhos. Elas deixam de ser recomendadas para vagas de emprego ou promoções, e os chefes se tornam mais intolerantes com atrasos e faltas: sim, ao contrário do que ditaria o bom senso, mães são mais cobradas por presença e entregas do que mulheres sem filhos. A cereja do bolso é o que acontece com seus salários: depois de ter um filho, o salário das mulheres cai. Já o dos homens sobe porque eles passam a ser vistos como mais “responsáveis”, como os provedores.

 

A solução? Bem, ainda não há. Todos os países do mundo apresentam a penalidade materna. Ninguém conseguiu desenvolver uma fórmula para evitá-la. O que nos resta é tentar coletar exemplos de lugares que estão tentando resolver esse problema de forma criativa e corajosa. São essas histórias que estou coletando neste meu ano de pesquisa na Alemanha - e que vou compartilhar com vocês nos próximos posts.

Texto publicado originalmente na Rede Maternativa

Mulheres com filhos são consideradas menos competentes e confiáveis do que homens e até mesmo do que suas colegas sem filhos. 
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