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Pelo direito de ficar
em casa
Licença remunerada não deveria ser exclusividade para mulheres. Homens e mulheres têm o direito de ver os filhos crescerem.
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“Mas o que é que um pai vai fazer em casa durante a licença?” Uma pesquisa feita pela Ouvidoria do Ministério da Saúde entre 2012 e 2013 mostrou que 65% das mulheres que deram à luz no SUS não tiveram acompanhantes na hora do parto. 54% delas disseram que o serviço de saúde não permitiu a entrada do parceiro. Por isso, quando digo às pessoas que estou estudando licença parental - uma licença do trabalho nos primeiros anos dos filhos que pode ser tirada tanto por pais quanto por mães - muitas perguntam: mas vale a pena lutar pela presença do pai nos primeiros meses? Os pais precisam (ou mais: eles querem?) ficar em casa quando seus filhos nascem?

 

Há incontáveis benefícios na licença parental unissex: ela aproxima pais e filhos, dá suporte à mãe no puerpério, ajuda na distribuição mais igualitária do trabalho doméstico e dos filhos, diminui o preconceito com mulheres no mercado de trabalho. Mas há um outro também, sobre o qual pouca gente pensa: licença parental faz sentido porque pais também deveriam ter o direito de conviver com seus filhos, ué. Se os homens também fazem filhos, porque damos apenas às mulheres o direito de ficar com eles quando os rebentos vêm ao mundo?

 

Quem me mostrou esse jeito de enxergar a paternidade foi a professora de demografia na Universidade de Estocolmo, na Suécia, Ann-Zofie Duvander. Resolvi conversar com ela porque a Suécia tem uma fama muito específica: a de ter os pais mais participativos do mundo. Por lá, a licença parental é de 480 dias (16 meses), que podem ser divididos entre pais e mães da maneira como eles preferirem. Até aí, tudo bem. O que é realmente único da Suécia, é a adesão dos pais: quase 90% dos homens se afastam do trabalho por alguns meses quando seus filhos nascem. 

 

Perguntei à prof. Duvander o motivo. “Os pais enxergam a licença parental como um de seus direitos de cidadão. Se a mãe vai usufruir de toda a duração da licença, o pai precisa assinar uma autorização dizendo que abre mão do seu tempo. É nessa hora que os homens percebem que não querem perder esse direito”, ela disse. O segredo, ela diz, está na formulação da lei. Fazer entender que todos os cidadãos têm o mesmo direito de acompanhar o desenvolvimento dos filhos nos primeiros meses de vida. 

 

Para nós, pode funcionar também. Se as pautas da primeira infância deixarem de ser causa apenas feminina, as chances de mobilização são maiores. Ou seja (e nem acredito que vou dizer isso) mas, homens, é hora de lutar por seus direitos.

Texto publicado originalmente na Rede Maternativa.

Quando a licença é formulada como um "direito dos homens", as chances são maiores de que eles não queiram desperdiçar esse tempo.
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