Não faz sentido desperdiçar as mulheres
Dificultar a volta das mães ao mercado de trabalho tem um impacto imenso. Por isso, licença parental é boa para a economia inteira.
Em todos os países do mundo, em qualquer realidade social, homens trabalham mais fora de casa do que mulheres. As taxas de ocupação masculina são sempre maiores do que as femininas, já que elas, sabemos, costumam centralizar os trabalhos não-remunerados, principalmente de cuidado: da casa, dos filhos, dos idosos. No Brasil, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria, 84% dos homens são economicamente ativos, contra apenas 61% das mulheres. E mais: uma em cada quatro brasileiras relata ter saído do último emprego para cuidar de algum membro da família.
Você já parou para pensar que desperdício que é isso? Estamos mantendo dentro de casa as melhores e mais preparadas cabeças da sociedade. Literalmente. No Brasil, mulheres terminam o ensino médio com mais frequência do que homens, são a maioria dentro dos cursos universitários, e assinam 72% dos trabalhos acadêmicos. Manter essas pessoas longe do mercado de trabalho é desperdiçar dinheiro de verdade.
Quase todos os países ao redor do mundo perceberam que criar incentivos para que as mulheres executem trabalho remunerado não é questão de bondade ou de igualdade de gênero: é questão econômica urgente.
Historicamente, isso foi notado primeiro em tempos de guerra. As creches públicas da Inglaterra, por exemplo, só se tornaram abrangentes durante a Segunda Guerra Mundial, quando o governo britânico percebeu que dificilmente teria chances contra os nazistas se não usassem todos recursos humanos disponíveis - “até” as mães. Segundo o artigo “War in the Nursery” (Guerra no berçário), da ensaísta inglesa Denise Riley, o número de creches saltou de 222 antes da guerra, para 2.343 durante a batalha. “Cuidar de crianças precisa se tornar tão importante quanto trabalhar nas fábricas”, dizia uma propaganda do Ministério da Saúde britânico, que queria angariar vizinhas, idosas e parentes para cuidar dos filhos das trabalhadoras.
Não estamos, é claro, em guerra (embora os tempos sejam estranhos). Mas não é preciso uma calamidade para olhar com atenção para essa parcela da população. Fornecer creches públicas de qualidade, horários flexíveis para pessoas que tiveram filhos, licenças remuneradas estendidas, ausências justificadas quando uma criança adoece: tudo isso é um custo pequeno para “o patrão” ou para “o estado” - perto da enorme mão de obra qualificada que somos.
Texto publicado originalmente na Rede Maternativa.