Fernando Telles,
40 anos, músico
Como tirou a licença: é artista freelancer. Negou trabalho nos primeiros três meses de vida do seu filho, há um ano e meio. Está em casa desde então.
Foto: Senhoritas Fotografia
"
Eu percebi que o exemplo é super importante. Eu tenho que ter cuidado com tudo o que faço e falo na frente dele porque ele repete tudo. Eu tinha restrições na alimentação e, com ele, tenho que passar por cima disso. Se eu não como algo, ele também não come. Então tenho que evoluir mesmo, como homem.
Nosso vínculo é uma coisa inexplicável. É aquele clichê: “só quando você é pai que você sabe”. Eu achava que não era assim, mas realmente é. Você sofre fora do seu corpo, você sorri fora do seu corpo, seu coração bate fora do seu corpo. Você está lá, descobrindo o mundo por ele.
Eu estava conversando com um amigo meu outro dia, porque eu estava tocando no carnaval. E no carnaval você geralmente toca por mais tempo, porque você faz o circuito de trios, essa coisa toda. E eu me senti menos cansado tocando do que ficar em casa com o bebê.
Vejo pelos meus amigos, a grande maioria é negro também. Existe preconceito pela falta de informação mesmo, a falta de estrutura. A maioria deles, mesmo que ganhem dinheiro, não teve acesso à informação, e fica com aquela ideia de que o homem é o que tem que trabalhar, levar dinheiro, e ter uma mulher em casa cuidando da sua cria. Eu percebi que não entenderam o que eu faço, de ficar em casa. Isso tudo é herança da escravidão, da colonização. Quero ser um exemplo diferente.
Eu tive que trabalhar a minha cabeça para entender que estou em um outro momento da vida, talvez o mais importante. No início, surgiam oportunidades de trabalho e eu tinha que dizer: “não posso, porque eu estou com o bebê”. E algumas pessoas até estranhavam, os contratantes, outros músicos: “mas é você que fica com o filho em casa? E a mãe?”