Nada substitui o direito à creche
Licença é bom, mas ter onde botar os filhos depois é melhor ainda.
Quando engravidei, eu tinha um plano todo perfeitamente traçado para os próximos 3 anos da minha vida. Eu estava contratada em regime CLT, tiraria 4 meses de licença emendados com minhas férias - e depois pediria as contas para poder trabalhar de casa e acompanhar o desenvolvimento do meu filho nos primeiros anos de vida. Queria estar presente e dar uma pausa no trabalho corrido de jornalismo. Mas - grandes ironias da vida - aconteceu o contrário. Quatro meses depois do parto eu já estava MORTA de saudades de trabalhar. Não via a hora de sair de casa todos os dias, conversar com adultos, voltar a escrever, ter um teto todo meu.
Foi assim que resolvi negociar horários flexíveis com meu chefe, que permitiu que eu passasse as manhãs trabalhando de casa e fosse apenas de tarde para a redação. Por muita sorte (e privilégio), ele topou. Assim que minhas férias acabaram, lá fui eu cantarolando de volta pro serviço, mais feliz do que em toda a minha vida profissional anterior.
Confesso que penso muito nisso quando vejo as licenças parentais enormes que existem em alguns países da Europa. Aqui na Alemanha, são 14 meses. Na Suécia, são 16. E na Estônia, os pais podem ficar até inacreditáveis 38 meses em casa quando seus filhos nascem. Isso tudo parece maravilhoso, mas… e se as mães não quiserem ficar tanto tempo em casa? E aí?
Em todos esses países, ninguém é obrigado a tirar a licença completa. Na maior parte deles - e ao contrário do Brasil - a remuneração durante o período também não é integral, o que significa que os pais estão abrindo mão de um pedaço do seu salário para estar de licença. Mas isso não quer dizer que é simples fugir do “esquema oficial”.
Tenho visto de perto o caso da Alemanha. Por aqui, não existe o direito à creche para crianças menores de 1 ano. E, mesmo depois disso, há uma grande falta de vagas pelo país: oficialmente, 273.000 crianças alemãs estão sem creche - isso num país em que as coisas supostamente “funcionam”. Mães que tentam voltar ao batente antes que seus filhos façam 1 ano de idade precisam explicar porque precisam de uma escolinha “tão cedo”. Uma das mães que entrevistei aqui ouviu de diversos funcionários da prefeitura de Berlim que ela estaria fazendo mal ao seu filho ao tentar botá-lo no berçário com 7 meses de vida. Para completar, também não há escolinhas privadas.
O Brasil até que não está tão mal nesse critério. É claro que faltam milhões de vagas de creche, mas o direito a ela pelo menos está assegurado na Constituição desde 1988, para bebês de qualquer idade. Na rede privada, então, basta se matricular a qualquer momento. O uso de babás também é comum. Mães que trabalham são vistas com mais naturalidade. Aquelas que, como eu, não querem passar longos períodos em casa sabem que (pelo menos teoricamente) maternar deve ser uma escolha.
Texto publicado originalmente na Rede Maternativa.