Caio Tendolini,
34 anos, ativista político
Como tirou a licença: era co-fundador de uma ONG quando a filha nasceu, e sugeriu que a licença paternidade por lá fosse equiparada à licença maternidade. A sugestão foi acatada e ele ficou 4 meses em casa.
Foto: arquivo pessoal
"
Demorei mais de um mês pra aprender a lidar com o choro da minha filha sem correr pra entregar pra mãe. Demorei uns 3 meses pra conseguir fazer ela dormir sem peito, só eu. Foi o mesmo tempo pra entender a importância de brincar com ela: antes eu achava que bastava ficar do lado sem fazer muita coisa. Mesmo indo à pediatra todas as vezes, a minha mulher me chamou atenção que não era só ir, tinha que tomar as decisões depois, lidar com ir reembolso de consulta etc.
Tenho muita dificuldade em valorizar o trabalho invisível que dá cuidar da minha filha. Não é fácil virar essa chave, de que esse trabalho "invisível" é vital para a minha filha e para a sanidade da mãe. Entender que esse trabalho vai tirar tempo das minhas ambições é bastante doído.
A minha filha começou a me reconhecer – visualmente, minha voz e meu cheiro e sorrir pra mim – por volta do terceiro mês. Hoje temos uma relação linda. Sinto que ela se acalma comigo, que sente minha falta, e que se diverte comigo. Me sinto como um cuidador dela, e não como um provedor.
Uma das minhas maiores preocupações é o risco que isso apresenta pra nossa vida de casal. É muito fácil esquecer o casal no meio da filha, da casa, família, amigos, ambições profissionais – para além de transar, que é a parte "mais fácil" de resolver.